RORAIMA

Capital: Boa Vista
Municípios: 15
Site: http://www.portal.rr.gov.br/
A HISTÓRIA DE RORAIMA é recente, mas nem por isso pouco conturbada. Várias vezes invadida por diversos países interessados na região, a pouco assistida Roraima — região localizada no extremo norte do Brasil, despertou pouco interesse por parte dos portugueses, especialmente após a chegada da família real ao Rio de Janeiro. Foi bastante cobiçada pelo inglês, neerlandeses e, especialmente, espanhóis.
Palco de revoltas, massacres, crescimento, exploração e progresso, foram várias as invasões estrangeiras — todas elas neutralizadas pelas forças lusitanas no Forte São Joaquim.
JOAQUIM NABUCO – aclamado advogado pernambucano, defendeu a região diante do rei da Itália no século XIX. Terra que foi município, território federal e estado. A narração de tal história inicia-se no século XVIII, dois centenários após o descobrimento do Brasil por Cabral, nas caravelas portuguesas em 1500.
Século XVII, a descoberta do rio Branco – O rio Branco é o maior e mais importante rio da região. Apesar da chegada oficial dos portugueses ao Brasil ter acontecido em 1500, com Pedro Álvares Cabral, foram necessários mais de duzentos anos para que a região do vale do rio Branco fosse encontrada pelos lusitanos. Foi por este rio, que é o principal curso d’água do local, que chegaram os primeiros colonizadores portugueses. Embora habitada basicamente por índios, não foi tranquila a estadia dos primeiros europeus que lá se instalaram. Isso porque a Espanha promovia invasões a essa parte do território colonial de Portugal através da Venezuela, e os neerlandeses através da Guiana. 
Os portugueses reagiram, derrotando e expulsando os invasores, estabelecendo a soberania portuguesa na região. O capitão Francisco Ferreira e o padre carmelita Jerônimo Coelho, foram os primeiros colonizadores a chegar ao rio Branco. Seus propósitos eram aprisionar índios e recolher ovos de tartaruga para a produção de manteiga. Após estes, vieram Cristóvão Aires Botelho e Lourenço Belfort, sendo os primeiros a ultrapassarem a Cachoeira do Bem-Querer. José Miguel Aires também subiu o rio Branco, com a meta de aprisionar indígenas e vendê-los para Belém do Pará e São Luís do Maranhão, onde seriam escravizados. Outro comerciante escravista foi o holandês Nicolau Horstman que, saído de Paramaribo (capital da colônia holandesa sul-americana), atingiu o rio Branco em 1741 e fomentou o comércio de escravos pelos rios Jauaperí e Tacutu àquela colônia. 
Os espanhóis, por sua vez, foram responsáveis por um ato tido como utópico pelos olhos lusitanos, quando nos anos de 1771 e 1773, invadiram o rio Uraricoera, vindos do rio Orinoco, após atravessarem a cordilheira de Pacaraima, como um ato histórico. Lá fundaram três povoações: Santa Bárbara, São João Batista de Caya Caya e Santa Rosa. Todavia, não resistiram às forças portuguesas e acabaram também expulsos da região.
Diante da cobiça internacional pela região do vale do rio Branco, decidiu-se que seria construída uma fortaleza, o Forte de São Joaquim do rio Branco (hoje desaparecido), – um marco para a soberania portuguesa na região.
A construção do forte trouxe uma ilusão de que haviam chegado tempos de prosperidade, com a construção de três povoados (onde os índios foram forçados a habitar). Nas margens do rio Uraricoera, estava o povoado de Nossa Senhora da Conceição e Santo Antônio; São Felipe (no rio Tacutu) e o povoado de Nossa Senhora do Carmo e Santa Bárbara, no rio Branco. Não houve progresso – os índios não se sujeitaram às imposições portuguesas e rebelaram-se, abandonando os lugarejos que acabaram por desaparecer.
Século XIX, a família real e a estagnação econômica em 1808 – A família real portuguesa mudava-se para o Brasil, numa fuga de Napoleão Bonaparte e o exército francês. Estabelecidos na sede da colônia, os nobres enfrentaram problemas de adaptação com o novo lar. A preocupação passou a ser a criação de condições mínimas para que a realeza vivesse de forma luxuosa e confortável naquele país, da forma como vivia nas terras europeias. Assim, o sul da colônia cresceu rapidamente enquanto o Norte e a Amazônia ficaram desassistidos e abandonados. Mesmo com o abandono, o Forte São Joaquim, tido como a sentinela da soberania portuguesa, manteve-se erguido por mais de um século. Nesse meio tempo foram várias as vezes que os soldados lusitanos lutaram contra invasores estrangeiros.
A questão do Pirara – Mapa com as áreas contestadas pelos ingleses.
A escala está levemente desproporcional – Se algum dos soldados que defendiam a soberania portuguesa na região do vale do rio Branco, fosse questionado quanto aos mais resistentes invasores enfrentados, ele certamente apontaria os ingleses. A disputa entre partes do território luso-brasileiro entre Portugal e Inglaterra, foi além de Roraima. Combates e invasões, envolveram a diplomacia internacional, a advocacia e vários anos sem uma definição final.
Entre 1810 e 1811, soldados ingleses penetraram na região. O comando do forte os recebeu cordialmente, impedindo-lhes, no entanto, de prosseguirem sua missão de invasão. O alemão Robert Schomburgk que, apesar da nacionalidade, trabalhava para os anglófonos, foi em 1835, à região, a título de fazer um levantamento acerca da geografia física da Guiana interiorana. Enviou a Londres relatórios denunciando a quase inexistente soberania portuguesa no que hoje chama-se Roraima. Sugeriu que a Inglaterra ocupasse algumas áreas, e em alguns casos permanentemente. A corte inglesa e a opinião pública receberam bem o relatório e foi enviado o missionário protestante Thomas Yound, que ficou na região do Pirara catequizando índios para a religião e para o domínio britânico. Ele ensinou ainda o idioma daquele país e hasteou a bandeira inglesa em solo brasileiro.
O presidente da província do Pará, General Soares de Andréia, ordenou que o comandante do Forte Capitão Ambrósio Aires e frei José Santos Inocentes, intimassem o missionário pessoalmente a retirar-se da região. Ele, por sua vez, cumpriu as exigências, mas levou junto a si os índios que outrora haviam sido por ele catequizados.
A tentativa de domínio da região por parte dos ingleses não acabou aí, e, a partir de 1840, iniciou-se um grande conflito que envolveu até mesmo reis europeus e tribunais internacionais. Nessa data o germânico Schomburgk desenhou um mapa que continha a região do Tacutu, do Mau e até do Surumu, mostrando que era ocupada por “tribos independentes”, e enviou-o para Londres. Indicou uma nova fronteira entre as terras brasileiras e as terras da atual Guiana, tendo como limites os rios Cotingo e Surumu. A carta impressionou a opinião pública britânica, que passou a exigir que as sugestões do alemão fossem acatadas pelo governo inglês.
A presença brasileira na fronteira era fraca devido ao descaso da família real, no entanto o governo paraense protestou em Belém, diante do cônsul inglês, e o Brasil protestou na capital britânica pelo embaixador brasileiro. 
Os protestos fizeram o governo inglês recuar, retirando os marcos provisórios já colocados na região, mas não desistiu. Em 1842, foi recebida em Londres, uma recomendação brasileira para que a área de disputa (a região do Rupununi), fosse neutralizada. A Inglaterra concordou, mas não recusou seus direitos – aceitou a neutralização apenas com a inclusão das áreas do Cotindo e do Mau. Essa disputa diplomática se prolongou até 1898, final do século XIX, até que o Brasil acatou a proposta dos anglófonos de submeter a questão ao governo italiano que atuaria como árbitro.
Joaquim Nabuco foi o indicado brasileiro para acompanhar o julgamento, que seria feito pelo rei ITALIANO VITÓRIO EMANUEL III. Nabuco aprofundou-se na causa, argumentando de forma prima sobre a supremacia dos lusófonos na região. Foram dezoito impressionantes volumes de material argumentativo desenvolvido pelo pernambucano.
Em 1904, a decisão foi tomada pelo rei italiano – 19.630 km² seriam retirados do Brasil e entregues à Inglaterra (somando territórios para a Guiana), definindo assim, os limites da fronteira.  Apesar disso, os argumentos de Nabuco não foram em vão, haja vista que não fossem estes, a área perdida seria quase que o dobro, estabelecendo assim, um saldo devedor eterno dos roraimenses para com Nabuco. 
Boa Vista –  Segundo os dados de 1887 a população de Boa Vista era de mil habitantes. Em 9 de julho de 1890, o governador amazonense Augusto Ximeno de Ville Roy, criou o município de Boa Vista do Rio Branco (hoje simplesmente “Boa Vista”), acreditando que assim incentivaria o crescimento da região do vale do rio Branco. Outra atitude que contribuiu para o desenvolvimento da região foi a construção de uma vereda, ligando Boa Vista à Manaus – vereda essa, que transformar-se-ia numa das principais rodovias da região – a BR-174.
Século XX – Nasce o Território Federal Água Fria. E foi em meados de 1980, que esta região mais foi explorada, de forma descontrolada e não-sustentável, trazendo aos estados dezenas de milhares de imigrantes vindos sobretudo do Nordeste brasileiro e também de estados vizinhos, do Sul e de outros países. 
O garimpo era feito com maquinas, o que agilizava o trabalho e a destruição. Um exemplo do poder destrutivo da garimpagem feita com máquinas é a serra do Tepequém, no município de Amajari, onde há um espaço num rio denominado “funil”, por ser este o seu formato, adquirido como consequência das explosões realizadas pelos garimpeiros em busca de ouro, diamante e outras pedras preciosas. Até que, alguns anos depois da explosão da garimpagem, foi demarcado o Parque Indígena Ianomâmi, o que fez o serviço praticamente desaparecer da região. O ambiente foi poupado, contudo muitas marcas deixadas pela exploração ainda são visíveis.
BR-174 ATRAVESSA A FLORESTA AMAZÔNICA – Um sonho de séculos, realizado somente recentemente. Nos fins do século XIX, antes do advento do barco a motor, a comunicação Boa Vista/Manaus, dava-se por embarcações movidas a remo, varejão, vela, sirga ou gancho. As viagens duravam três meses. A partir da motorização destes barcos, o mesmo percurso passou a ser completado em apenas cinco ou seis dias — variando conforme o volume das águas do Branco.
A ideia de uma ligação rodoviária entre as duas localidades era um grande sonho rio-branquense, atendido em 1893 pelo então governador do Amazonas, Eduardo Ribeiro, ao contratar o fazendeiro do vale do Branco, Sebastião Diniz, para abrir uma vereda de 815 quilômetros por dentro da mata densa. Diniz, junto aos companheiros coronel Manoel Pereira Pinto e o piloto fluvial Terêncio Antônio Lima, cumpriu com o dever e possibilitou uma nova forma de comunicação entre as duas cidades.
Findo o governo de Ribeiro, a estrada ficou à deriva e a floresta tratou de reanexá-la ao ecossistema predominante. Em 1927, conforme registros históricos, o guianense Collins, reabriu a via de circulação, agora com 868 quilômetros. Em 18 de setembro de 1975, o jornal manauara “A Crítica”, anunciava a passagem do primeiro comboio de viaturas através da BR-174 (Manaus/Boa Vista) – o Brasil estará ligado diretamente ao contexto das Américas.
A engenharia militar, pelo 6º Batalhão de Engenharia e Construção (6º BEC), localizado em Boa Vista, concluiu o último trecho de 6 quilômetros que falta para o desmatamento, ligando definitivamente as duas frentes de serviço. Assim, no dia 22 daquele mesmo ano, o coronel João Tarcizo Cartaxo Arruda, sairia da capital rio-branquense rumo à capital amazonense, inaugurando a BR-174 — agora efetivamente uma estrada rodoviária.
A construção desta estrada fora acordada por Brasil e Venezuela, com o objetivo de ligar Caracas a Brasília. A ligação de Boa Vista com o BV-8 (Marco fronteiriço Brasil–Venezuela 8), onde atualmente situa-se a cidade de Pacaraima, já havia sido concluída há dois anos. A inauguração da estrada Manaus/Boa Vista/BV-8, estava prevista para abril de 1976. Contudo, devido uma tempestade, um grande trecho de 6 quilômetros transformou a estrada florestal num grande pântano, impedindo o tráfego. Assim, não foi possível que o coronel Arruda concluísse a viagem, ficando a inauguração da estrada somente para 1976 mesmo. O asfaltamento da estrada foi iniciado na década de 1980, também pelo 6º BEC. 
Só se viu a rodovia completamente coberta por aquele tapete de petróleo — um elemento fundamental para superar o trecho de chuvas permanentes em que vive mergulhada a divisa RR/AM — em 1998, durante o governo de Neudo Campos.
Para formar o Território Federal, foram desmembrados e mantidos três municípios. Moura e Barcelos foram os desmembrados e Boa Vista do Rio Branco foi mantida na região, tornando-se capital. O decreto supracitado (n° 5812), criou, ainda, os municípios de Boa Vista (simplificando seu nome com a exclusão do Rio Branco) e de Catrimani. Este último nunca chegou a ser implantado e, em 1955, foi extinto e, em seu lugar, ficou Caracaraí. No todo, haviam sete distritos: quatro em Boa Vista (a sede, Conceição do Mau, Depósito e Uraricoera) e três em Caracaraí (sua própria sede, Santa Maria do Boiaçu e São José do Anauá).
Em 13 de setembro de 1962, na Câmara Federal, o projeto nº 1433, de 18 de janeiro de 1960, do deputado Valério Caldas de Magalhães, que previa a mudança de nome do então Território Federal do Rio Branco para Território Federal de Roraima, transformou-se em Lei. O mesmo havia, em 1945, se oposto à ideia, originada do então governador Ene Garcez. Contudo, convencera-se da necessidade de tal metamorfose.
A justificativa para o projeto era a coincidência com o nome da capital acreana, o que sempre gerava transtornos — como o envio de cartas ao destino incorreto. O nome Roraima foi indicado pela opinião pública, que foi ouvida numa consulta promovida por Magalhães. Roraima. Vem do Ianomami e significa monte verde” e representa o impávido e imponente MONTE RORAIMA, localizado na fronteira tríplice entre Brasil, Venezuela e Guiana, sendo este o ponto culminante da região.
Com um Território mais povoado e desenvolvido, a pleno vapor, em 1982, foi aprovada a Lei N° 7009, de 1 de julho, criando oito novos municípios: três com terras emancipadas de Boa Vista e quatro com terras desmembradas de Caracaraí. 
Nasciam a partir da área de Boa Vista, Alto Alegre, Bonfim e Normandia; e de Caracaraí: Mucajaí, São João da Baliza e São Luís (mais conhecido até hoje por São Luís do Anauá).
Alguns anos depois, em (1994, com Roraima já transformada em Estado), criaram-se outros dois municípios: Caroebe, com terras desmembradas de São João da Baliza; e Iracema, a partir de Mucajaí. No ano seguinte, em 1995, criaram-se os últimos cinco municípios: Amajari e Pacaraima, com terras desmembradas novamente de Boa Vista; Uiramutã, a partir de Normandia; Cantá, com terras de Bonfim; e, por fim, Rorainópolis (a atual segunda maior cidade do estado e de maior crescimento porcentual demográfico anual), diminuindo o terreno de São Luiz (do Anauá). As leis estaduais (de 1994 e 1995) e federais (de 1982), no entanto, pecaram por não citar os distritos que devem fazer parte desses novos municípios. Quadro de reservas indígenas: Ananás – 1.769; Aningal – 7.627; Anta – 2.550;  Barata/Livramento – 18.830; Boqueirão – 13.950; Canuanim – 6.324; Ianomami[27] – 9.419.108; Jabuti – 8.000; Jacamim – 107.000; Malacacheta – 16.150; Mangueira – 4.033; Manoá/Pium – 43.330; Ouro – 13.572; Pium – 3.810; Ponta da Serra – 15.597; Raimundão – 4.300; Raposa/Serra do Sol[28] – 1.747.464; Recanto da Saudade – 13.750; Santa Inês – 29.698; São Marcos – 624.110; Wai-Wai – 330.000; Waimiri/Atoari – 514.000; Xununumetamu – 48.750; Total: 12.783.338.
Cultura
Antes do descobrimento, a cultura em Roraima era composta somente pela indígena. Com a chegada dos portugueses, suas tradições e costumes começaram a ser germinadas na região. Mais tarde, com a chegada do missionário protestante inglês Thomas Yound, começaram a ser ensinados a religião e alguns costumes britânicos.
Decênios depois, com a chegada de nordestinos e sulistas à região, com o crescimento econômico e a criação de Boa Vista, a cultura roraimense tornou-se uma mesclagem da cultura de diversos pontos do país e dos indígenas. O forró, por exemplo, começou a se solidificar como um dos mais ouvidos ritmos da região naquela época.
Atualmente, com a chegada de imigrantes de todos os estados, atraídos pelos concursos públicos, de imigrantes vindos do exterior (especialmente Guiana e Venezuela, mas também com fatias consideráveis de Colômbia e Bolívia), fica complicado definir culturalmente o estado de Roraima, por não parecer haver um padrão. Embora tenha havido um crescimento nos concertos de Música Popular Brasileira e de rock, o som mais predominante continua a ser o forró. No artesanato, porém, a inspiração continua a ser indígena. Dentre os fatores para este crescimento destacam-se: a abertura da BR-174 (Manaus / Boa Vista / Pacaraima) e a campanha desenvolvida pelo governo do então Território Federal de Roraima, que incluiu a abertura do garimpo. Antes da abertura da BR-174, a única comunicação existente entre as capitais roraimense e amazonense era feita apenas por meio do rio Branco (que só é navegável plenamente por 3 ou 4 meses no ano). A origem destas correntes é bastante diferenciada, com destaque para a região Nordeste.

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